UMA PRINCESA ORIGINAL
Era uma vez um rei que, como os reis de antigamente, tinha o hábito de escolher os noivos para as suas filhas.
Assim, quando a princesa Preciosa fez treze anos, reuniu na sala do trono os pretendentes e anunciou:
- Dou a mão da minha filha a quem mais depressa consiga encher este salão.
- Eu encho-o rapidamente - disse o primeiro. - Despejo aqui todos os fardos de palha da cavalariça que pouco pesam e perto estão.
- Pois eu faço o serviço mais depressa e melhor - disse o segundo. - Basta-me abrir as torneiras e, sem carregamentos, encho a sala de água.
- Pois eu - disse o terceiro - encho-o já, sem precisar de ir buscar seja o que for.
Então, para espanto dos presentes, pôs-se a acender as velas do candelabro, até a luz alcançar todos os recantos.
Ficou o rei encantado com o jovem, chamando logo a princesa para lhe dar a sua mão.
Porém, a princesa não estava interessada em dar a mão ou o pé a quem quer que fosse. Queria brincar, estudar, correr mundo.
- Meu pai - replicou ela -, o senhor prometeu que daria a minha mão a quem ganhasse este concurso. Também quero experimentar.
Nesse mesmo instante, pegou na guitarra. Num instante, a mais bela música encheu a sala, espalhou-se pelos corredores e até na rua as pessoas paravam para a ouvir tocar.
Entretanto, o rei, embaraçado mas orgulhoso da filha que tinha, concordou:
- Ganhaste!
Imediatamente, a princesa concluiu:
- Portanto, a mão é minha e só minha. Dou-a a quem me apetecer, no dia em que eu quiser.
Finalmente, os velhos daquela corte ficaram a adivinhar:
- Que mania da independência! Como serão as raparigas no século vinte?
Luísa Ducla Soares, Histórias Nunca Lidas