A GALINHA
DOS OVOS DE OURO
DOS OVOS DE OURO
Naqueles tempos antigos em que as fadas, as bruxas e os duendes andavam pelo mundo, havia numa cidade um casal com a fama de nunca estar satisfeito com o que tinha.
Quando fazia bom tempo, o marido e a mulher queixavam-se do calor e quando fazia frio lamentavam-se amargamente de terem de viver num país como aquele, onde nem sequer se podia pôr o nariz fora da porta de casa. Se o tempo era seco, queixavam-se do pó; e se chovia, praguejavam contra a água e as nuvens.
Para além do mais, eram muito avarentos. Na cidade dizia-se que, por uma moeda de ouro, eram capazes de enforcar todos os parentes e amigos e inclusivamente de se matarem um ao outro.
Para provar que tudo o que se dizia deles era verdade, um duende brincalhão e trocista, que tinha a sua casa dentro do tronco de uma árvore, apareceu ao marido numa tarde em que este tinha ido buscar lenha ao bosque.
- Olá, bom homem - disse-lhe, do tronco da sua árvore - Pareces cansado e triste. A tua vida é dura? Estás doente? Não tens o que comer?
O homem olhou assustado para o duende e desatou a tremer de medo.
- Não, não estou doente - conseguiu dizer por fim o homem - Também não tenho fome, nem se passa nada de mal comigo. Mas estou triste porque a vida é sempre triste, porque a minha mulher e eu somos pobres e por muitas outras coisas que trago guardadas no coração e que não saberia explicar-te muito bem.
- Se não estás doente e não tens fome, não és pobre - disse-lhe o duende.
- Sou sim - replicou o homem - Quem não tem ouro é pobre e eu não tenho ouro.
O duende não conseguiu evitar uma gargalhada.
- Não, homem, não - disse por fim - Estás enganado. Eu posso ter todo o ouro do mundo que quiser, pois sou o duende do bosque e sei onde estão escondidos todos os tesouros. Mas a mim o ouro não faz falta nenhuma. Preciso da luz do Sol, de comida e desta casa forrada com suaves penas de aves e peles de esquilo; e, sobretudo, preciso de estar saudável e forte, de poder caminhar e desfrutar de todas as coisas que me rodeiam... Como tenho tudo isso, sou rico e feliz.
- Não, não - insistiu o homem. Ser pobre significa não ter ouro e eu não tenho ouro. Por isso estou sempre triste e não sou capaz de ser feliz.
- Fazes-me pena, amigo! - disse-lhe o duende - Vou oferecer-te uma galinha que todos os dias porá um ovo de ouro. Tu só tens de esperar e recolher diariamente o ovo. Assim, terás o ouro que tanto desejas e serás muito feliz para sempre...
E o duende retirou do tronco da árvore uma galinha entregou-a ao homem. Este colocou-a debaixo do braço e desatou a correr todo contente em direção à cidade, enquanto que o duende ria às gargalhadas.
Marido e mlher ficaram toda a tarde e toda a noite à espera que a galinha pusesse o ovo. Ao amanhecer, o animal começou a cacarejar e, pouco tempo depois, apareceu debaixo dele um bonito e reluzente ovo de ouro.
- Que aborrecimento! - disse a mulher - Temos de esperar até amanhã para poder ter outro igual...
- Sim, que azar! - acrescentou o marido - Terá de passar muito tempo, até que a galinha ponha ovos suficientes para sermos os mais ricos da cidade. Por isso o duende se ria tanto qando ma ofereceu.
- Eu sempre ouvi dizer - disse a mulher - que as galinhas têm dentro delas todos os ovos que põem, um a um. Porque não a matamos e retiramos todos de uma vez?
- E se o duende se aborrece?
- O duende está no bosque e nunca saberá - respondeu ela.
E, sem esperar mais, agarraram na pobre galinha, que cacarejava desesperadamente, e degolaram-na.
Mas dentro dela não havia mais nenhum ovo e, marido e mulher, começaram a puxar os cabelos, a chorara e a gritar, lamentando-se da sua sorte.
Empoleirado sobre um armário,o duende do bosque ria-se, pensando que a felicidade ou infelicidade não está no ouro, mas no coração de cada pessoa.