A PALAVRA CHORAR
Esta história não aconteceu ainda, mas acontecerá certamente amanhã. Eis o que conta.
Nesse dia, uma velha e boa professora levou os seus alunos, em fila de dois, a visitar o Museu do Tempo Que Passou, onde estão reunidas as coisas de antigamente que não servem já, como a coroa do rei, o vestido de cauda da rainha, o elétrico de Monza, etc..
Numa pequena vitrina levemente empoeirada estava a palavra Chorar.
Os pequenos alunos do Amanhã leram a etiqueta, mas não entenderam.
- Senhora professora, o que é que isto quer dizer?
- Trata-se de uma jóia antiga.
- Terá pertencido aos Etruscos?
A professora explicou que, noutros tempos, aquela fora uma palavra muito usada e que magoava. Mostrou um frasquinho onde estavam conservadas duas lágrimas; quem sabe se não as terá derramado um escravo surrado pelo patrão, ou talvez um menino sem casa.
- Parece água - disse um dos alunos.
- Mas escaldava e queimava - disse a professora.
- Será que a ferviam, antes de utilizá-la?
Os pequenos alunos não entendiam patavina e começavam já a aborrecer-se. Então, a boa professora acompanhou-os a outras secções do Museu, onde havia coisas mais simples para ver, como: a grade de uma prisão, um cão de guarde, o elétrico de Monza, etc, tudo coisas que já não existiam no país do Amanhã.
Gianni Rodari, Novas Histórias ao Telefone,
Ed. Teorema, 1988
Uma lágrima |
Sem comentários:
Enviar um comentário