terça-feira, 3 de janeiro de 2017

O RATO E O ANJO

Há um rato para cada português.
Dos jornais

Anjo guardum para cada um.
Da província

Um rato e um anjo da guarda
para cada.

Anjo defende  o ato
mau,
a fazer ou a sofrer.

Rato celebra contrato?
Qual?

Rato rói,
até na orelha.
Anjo dói
de outra maneira.

Mas eis que, nestes enredos,
há dois a mais, um a menos.

Cai ao anjo a pena,
ao rato o pelame.
Um regressa ao seu enxame,
o outro à sua caverna.

E o português, desanjado,
já se vê desratizado.
Chora.

Alexandre O'Neill, Poesias Completas

1924-1986

Escritor português

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