O RATO E O ANJO
Há um rato para cada português.
Dos jornais
Anjo guardum para cada um.
Da província
Um rato e um anjo da guarda
para cada.
Anjo defende o ato
mau,
a fazer ou a sofrer.
Rato celebra contrato?
Qual?
Rato rói,
até na orelha.
Anjo dói
de outra maneira.
Mas eis que, nestes enredos,
há dois a mais, um a menos.
Cai ao anjo a pena,
ao rato o pelame.
Um regressa ao seu enxame,
o outro à sua caverna.
E o português, desanjado,
já se vê desratizado.
Chora.
Alexandre O'Neill, Poesias Completas
1924-1986
Escritor português
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