MOTOCICLISTA
Não é ave, não é seta.
Espalma as duas mãos abertas
num guiador niquelado,
colado às horas despertas
que lhe segredam recados.
Não é ave, não é seta,
não é explosão de cometa
por um céu iluminado,
mas infiltra-se nas retas
com um lenço alaranjado,
perfumado de giestas,
ondulante e ondulado.
Não é ave, não é seta,
não é explosão de cometa
nem projétil disparado,
é um remendo de vela
sobre um mar encapelado,
uma centelha perpétua
que se prolonga no espaço.
Não é ave, não é seta,
não é explosão de cometa,
nem projétil disparado,
não é um homem com pressa,
faz parte da Natureza,
é um requinte do vento,
é um poema encarnado.
Isabel Pulquério