quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

DE UM BESTIÁRIO


FORMIGA

Com a formiga viajei,
Quase de braço dado...

Senhora formiga
É bom que se diga
Que tu és má:

Vais à alma, a pé,
p'ra roubar até
O que lá não há...


CISNE

Na água lenta onde insinua
O pescoço, espasmo constante,
Pura e hostil desliza a sua
Branca forma perturbante.


ANDORINHA

Despenteei-me já, mercê duma andorinha
Que na cabeça me passava p'la tardinha.


GRILO

O grilo que lutava ainda,
Adormeceu.

Coitado,
Já não podia aguentar o peso da noite.


Alexandre O'Neill, Obras Completas

1924-1986

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