terça-feira, 3 de novembro de 2015

A PÉROLA de KINO

   Todos os géneros de pessoas se interessaram por Kino - pessoas com coisas para vender e pessoas com favores para pedir. Kino tinha encontrado a Pérola do Mundo. A essência da pérola misturada com a essência dos homens produziu um curioso precipitado escuro. Toda a gente, subitamente, começou a viver em função da pérola de Kino, e a pérola de Kino penetrou nos sonhos, nas especulações, nos planos, nos futuros, nos desejos, nas necessidades, nos apetites, nas ansiedades de toda a gente, e apenas uma pessoa se erguia no caminho deles, e essa pessoa era Kino, de modo que ele se transformou curiosamente no inimigo de todos. A notícia fez vir à tona algo infinitamente tenebroso e perverso na cidade; o precipitado negro era como o escorpião, ou como a fome ao cheiro da comida, ou como a solidão quando o amor é proibido. As bolsas de veneno da cidade começaram a produzir a sua peçonha e a cidade inchava e ofegava sob a sua pressão.
   Mas Kino e Juana não sabiam destas coisas. Porque estavam felizes e excitados, pensavam que toda a gente partilhava da sua alegria. Juan Tomás e Apolónia partilhavam-na, e eles eram todo o mundo. Ao fim da tarde, quando o Sol tinha transposto as montanhas da Península para mergulhar no mar exterior, Kino acocorou-se na sua casa, com Juana ao seu lado. E a cabana transbordava de vizinhos. [...] Os vizinhos olhavam para a pérola na mão de Kino e perguntavam a si mesmos como fora possível caber tanta sorte a um homem.
   E Juan Tomás, que estava acocorado à direita de Kino, porque era seu irmão, perguntou:
    - Que vais fazer agora que és um homem rico?

John Steinbeck, A Pérola


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