quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

CARTA À BRANCA DE NEVE

   Minha querida amiga:
   Espero que possas ler esta breve carta de amor longe dos teus sete anões-guardiões, que eu sei que passam a pente-fino tudo o que te chega às mãos, com receio que seja uma maçã envenenada ou coisa parecida, destinada a causar-te sofrimentos.
   É pouco e é muito, ao mesmo tempo, aquilo que tenho para dizer-te. Tu foste a minha princesa, a primeira clareira de luz no meio das minhas noites sem sono. Por tua causa deixei de gostar de madrastas, de príncipes conquistadores, de maçãs envenenadas, de bruxas e de anões vigilantes.
   Eu queria-te só para mim, elegante, branca, meiga, vistosa, inteligente e sempre com um sorriso a disfarçar a tristeza do rosto. [...]
   Tive de me resignar. Não se pode ter uma princesa branca como a neve só para nós. Paciência. Continuo hoje a ver-te rodeada pelos teus pequenos guardiões, à espera de um príncipe galante que tarda em chegar.
   Até sempre, Branca de Neve. Como posso eu esquecer-te?

José Jorge Letria, Cartas aos Heróis,
Ed. Âmbar

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