segunda-feira, 29 de junho de 2015

PAPAGAIO DE PAPEL

Deixem-no lá, deixem-no lá, o papagaio!
Deixem-no lá, bem preso à terra, vibrando!

Aos arranques,
a fazer tremer a terra,
a querer voar
pelo ar
até pertinho do Céu...

Deixem-no  lá, deixem-no lá, o papagaio!
Deixem-no lá viver a sua inquietação e ser
verdade aquela ânsia de fugir.
Não lhe cortem o cordel!
Poupem o papagaio à dor enorme
de cair
papel inútil, roto, pelo chão.

Não lhe ensinem,
ao pobre papagaio de papel,
que a sua inquietação
é a única força que ele tem.

Deixem-no lá,
naquela ânsia de fuga,
no sonho (a que uma navalha
pode dar o triste fim)
de fazer ninho no Céu:
Sempre anda longe da terra, assim,
o comprimento do cordel!...

Deixem-no lá, deixem-no lá,
o papagaio de papel!...

Sebastião da Gama, Verso Aqui, Verso Acolá

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