sábado, 20 de junho de 2015

O COELHO E O SAPO

   O coelho e o sapo eram amigos.
   Um dia resolveram ir os dois roubar marfim à Administração.
   Depois do roubo, resolveram passar pela povoação do régulo para comemorar o feito e começaram a beber beber até não poderem mais.
   Como toda a gente sabe, o sapo está sempre de boca aberta e a garganta a abanar. Quando o coelho viu aquilo pensou logo numa maneira de se livrar dele e ficar com o produto do roubo e começou a dizer em voz alta: "Então sapo, decides-te ou não a contar o que te sufoca a garganta?"
   O régulo e os seus conselheiros disseram entre eles: "Nós sabemos que desapareceu o marfim da Administração, vamos ficar atentos, o ladrão pode estar perto."
   O coelho continuava: "Anda sapo, tens vergonha ou medo? Não disseste que não aguentavas mais? Não disseste que te bastava beber dois copos para te decidires? Então sapo?"
   O sapo estava atordoado, não sabia onde é que o coelho queria chegar.
   O régulo mandou um auxiliar para perguntar: "Ei vocês, o que é que o sapo tem para contar?" "Nada, nada, senhor chefe" apressou-se a responder o sapo. Mas estava atrapalhado porque tinha bebido de mais e trocava as palavras, além disso a presença do auxiliar do régulo metia-lhe medo por causa do roubo do marfim. O sapo olhou para o coelho como a pedir para ser ele a explicar o que se passava: "Anda coelho, tu és esperto, responde aqui ao senhor chefe." O coelho disse: "Eu não posso dizer, o meu amigo pediu segredo... é melhor perguntar a ele próprio." E virando-se para o sapo: "Então, sapo, vais continuar com o problema entalado na garganta? Resolves ou não falar no roubo?..."
   O régulo, que já estava à espera disso, disse: "Eu já sabia que era o sapo quem tinha roubado o marfim do senhor Administrador. Vamos prendê-lo e levá-lo ao rei para ser julgado."
   Só então é que o sapo percebeu que o coelho fizera tudo aquilo para se livrar dele e ficar com o marfim só para si.

Lourenço J. C. Rosário, A Narrativa Africana



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