domingo, 28 de junho de 2015

QUEBRA-NOZES

   Quando as coisas não lhe corriam como pretendia, o Pedro ouvia a avó dizer:
   - Deixa lá! Um dia compro-te um quebra-nozes!
   O Pedro já não pensava em mais nada.
   - O que será um quebra-nozes? - perguntava a si mesmo.
   Como nunca tinha visto nenhum punha-se a imaginá-lo. Pensava num fruto parecido com uma noz, muito grande e alaranjado, com casca estaladiça. Outras vezes imaginava-o muito pequenino, mais insignificante que uma semente de nabiça. Para o comer seria necessário pô-lo oito dias dentro de um copo cheio de água, para que inchasse e se tornasse muito maior do que um ananás... mas sem aquela casca dura.
   Outras vezes suspirava:
   - Se fosse um quebra-cabeças eu já sabia! - e desatava a rir.
   Uma tarde, o Pedro lembrou-se de ir à estante procurar um dicionário velhinho que o pai consultava aos domingos para conseguir completar as palavras cruzadas do jornal.
   Esteve muito tempo à procura da palavra "quebra-nozes".
   Quando a descobriu leu devagarinho, com o coração aos pulos:
   Quebra-nozes - instrumento de metal para partir nozes.
   O Pedro ficou desconsolado: então aquilo é que era um quebra-nozes?!
   Ah, não podia ser!
   À noite, quando a avó voltou a prometer o quebra-nozes, o Pedro ficou a pensar um bocado. E depois disse assim:
   - Está bem, Vó. Mas a partir de hoje só aceito um quebra-nozes-da-imaginação. Pode ser?
   - Pode! - respondeu a avó, que logo se pôs a pensar como seria um quebra-nozes-da-imaginação.

António Mota, Abada de Histórias

Sem comentários:

Enviar um comentário