QUEBRA-NOZES
Quando as coisas não lhe corriam como pretendia, o Pedro ouvia a avó dizer:
- Deixa lá! Um dia compro-te um quebra-nozes!
O Pedro já não pensava em mais nada.
- O que será um quebra-nozes? - perguntava a si mesmo.
Como nunca tinha visto nenhum punha-se a imaginá-lo. Pensava num fruto parecido com uma noz, muito grande e alaranjado, com casca estaladiça. Outras vezes imaginava-o muito pequenino, mais insignificante que uma semente de nabiça. Para o comer seria necessário pô-lo oito dias dentro de um copo cheio de água, para que inchasse e se tornasse muito maior do que um ananás... mas sem aquela casca dura.
Outras vezes suspirava:
- Se fosse um quebra-cabeças eu já sabia! - e desatava a rir.
Uma tarde, o Pedro lembrou-se de ir à estante procurar um dicionário velhinho que o pai consultava aos domingos para conseguir completar as palavras cruzadas do jornal.
Esteve muito tempo à procura da palavra "quebra-nozes".
Quando a descobriu leu devagarinho, com o coração aos pulos:
Quebra-nozes - instrumento de metal para partir nozes.
O Pedro ficou desconsolado: então aquilo é que era um quebra-nozes?!
Ah, não podia ser!
À noite, quando a avó voltou a prometer o quebra-nozes, o Pedro ficou a pensar um bocado. E depois disse assim:
- Está bem, Vó. Mas a partir de hoje só aceito um quebra-nozes-da-imaginação. Pode ser?
- Pode! - respondeu a avó, que logo se pôs a pensar como seria um quebra-nozes-da-imaginação.
António Mota, Abada de Histórias
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