0 MENINO E SEU PRESENTE
Quando a mãe desceu do ónibus, o menino já estava esperando no portão do jardim. Avistou-a, veio caminhando. Em vez de correr, como todos os dias, andava com dificuldade, curvado para a frente, a mão direita debaixo da blusa.
- Que foi, Bumba?
- Nada não, mãe.
A mãe percebeu logo que ele estava ocultando alguma coisa.
- O que é que está escondido aí?
- Pinto.
- Pinto?
- É sim, mãe. Olha ele aqui.
A mãe ajudou-o a levantar a blusa de lã e, antes de ver, ouviu um piado fino. A mão do menino segurava de encontro ao peito um pintinho amarelo, de aparência muito safada.
- Pode levar para casa não - avisou a mãe.
- Pode sim, mãe. Eu ganhei ele.
- Ganhou de quem?
- A tia deu ele.
- Deu para você?
O menino não respondeu. O pinto estava piando debaixo da blusa. Ele pôs a sacola no chão e agora, com a mão livre, procurava acalmá-lo:
- Dorme, nenen.
- A tia deu ele para você? - tornou a mãe.
- Deu, mãe. Eu juro.
- Está certo. Os outros meninos também ganharam?
- Ganhou. Todo mundo ganhou..
- Deus do céu - exclamou a mãe.
Apanhou a sacola no chão e pegou o menino pela mão:
- Vamos, meu filho.
Wander Piroli, Outras Vezes Também Nossas,
Boletim Cultural da Fundação Calouste Gulbenkian
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