NO PAÍS DA VONTADE
Moreno, franzino, indolente, este menino de dez anos parecia andar distante de todas as vibrações. Pegou num livro e abandonou-o sem o abrir. Colheu uma flor e deixou-a. Quis passear e arrependeu-se.
- Não tenho nada que fazer, nem me apetece fazer nada - disse, por fim, a olhar para o céu.
Nisto, uma figura apareceu ao pé dele.
- Acabo de ouvir uma coisa extraordinária: um menino a dizer que não lhe apetece fazer nada, nem tem nada que fazer!
- Se é verdade, não deves surpreender-te...
- Não devo surpreender-me? E se eu te pedir que venhas comigo ao país da vontade?
- Irei, se for aqui perto.
Desceram ambos ao pomar. - Chegámos: é este o país da vontade - o menino, de olhos abertos, não compreendia e chegou a pensar que o seu pai endoidecera.
- Repara, meu filho, neste botão de laranjeira. Este botão quer ser flor; depois, a flor quer ser fruto. Neste país, tudo tem uma vontade; tudo, neste silêncio do dia, tem o propósito fundo de ser mais, de ir mais além!
Como a tarde quer ser noite de estrelas, e a noite madrugada gloriosa a chamar a vida do homem para a luta, assim tudo aspira a progredir.
Nascer, subir, ampliar-se!
António Botto, Contos
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