sexta-feira, 1 de maio de 2015

A arca de Noé



   Numa noite de insónia, Noé recebeu um aviso divino de que ia haver um dilúvio e foi incumbido de construir uma arca grande e resistente para albergar e preservar as várias espécies animais.
   Quando Noé iniciou o trabalho, o sol resplandecia e não havia nuvens no horizonte. Mas ele era consciente e, ao fim de muitos dias de labuta, concluiu a obra. Achou-a admirável, e até ficou comovido.
   Apesar da indiferença inicial pela obra de Noé, a notícia do dilúvio correu o mundo inteiro e houve quem demorasse a chegar. Todos queriam um lugar a bordo mas não houve atropelos. Como Noé planeara, o espaço chegava.
   Ao acabar a contagem, ajudado pela mulher, ele nem queria acreditar no número de animais que ali estavam.
   - Oxalá tenham vindo todos!
   Olhou para o céu. Apesar de distantes, viam-se agora nuvens escuras, ameaçadoras. O vento soprava. Primeiro levantou poeira, depois arrancou folhas de árvores e até alguns ramos.
   - Se isto for grave, achas que a arca aguenta? - perguntou a mulher, receosa. - A madeira é boa? Não tem caruncho?
   De súbito, nuvens enormes e escuras, chocaram umas com as outras e ouviu-se um trovão assustador. Os bichos, aterrados, agarraram-se ao que podiam. Os mais pequenos esconderam-se nas frinchas da madeira.
   Ao orvalho da madrugada, seguiu-se um denso nevoeiro e depois uma chuva miudinha. Os pingos engrossaram e choveu como se tivessem aberto torneiras no céu. Em breve tudo ficou alagado. E Noé ordenou:
   - Ninguém sai da arca!
   O burburinho deu lugar ao silêncio. O medo apoderou-se de todos. Quando se fechou a porta da arca, não houve quem não sentisse um aperto no coração ou arrepios pelo corpo.
   Diz-se que um dilúvio avassalador se abateu sobre a Terra. Mal sabiam os tripulantes da arca que a catástrofe duraria quarenta dias e quarenta noites.


Pedro Strecht, A Arca de Noé,
Ed. Presença (texto adaptado) 


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