A RÃ MAINU
Conto popular de Angola
Quando o filho de Kimanaueza chegou à idade de casar, o pai perguntou-lhe se queria escolher noiva. Ele deu uma resposta surpreendente:
- Não me casarei com uma mulher da Terra, só casarei com a filha do rei Sol e da rainha Lua.
- E como é que pensas pedi-la em casamento?
- Cá me hei de arranjar.
O rapaz escreveu uma carta e foi pedir a uma zebra que a levasse. Ela recusou:
- Sendo um animal terrestre, não posso ir ao Céu levar a carta.
- Tens razão, vou arranjar outro mensageiro.
Depois de falar com o antílope, que lhe deu uma resposta semelhante à da zebra, o rapaz procurou quem pudesse voar. Teve uma conversa com o falcão, que ainda agitou as asas mas desistiu.
- Desculpa, não te posso valer, o Céu é muito alto.
Quanto ao abutre, foi mais direto:
- Nem penses. O fôlego só me permite ir até meio caminho.
Desconsolado, o rapaz guardou a carta. Acontece que a notícia daquele estranho desejo já se tinha espalhado pela aldeia e chegou aos ouvidos da rã Mainu, que resolveu ir oferecer os seus serviços. O rapaz ficou admirado e até zangado:
- Como te atreves a dizer que vais ao Céu, se aqueles que possuem asas garantem que não é possível?
- Dá-me a carta e eu levo-a - insistiu a rã Mainu.
Ele acedeu com maus modos:
- Toma. Mas olha que se não cumprires o combinado, levas uma sova.
A rã não ficou nada aflita. Sabia que os criados do rei Sol tinham por hábito descer à Terra para recolher água num poço, e tratou de se esconder nesse poço com a carta presa na boca.
Pouco depois ouviu barulho, percebeu que alguém lançara à água um balde, enfiou-se lá dentro e assim viajou até ao Céu sem ninguém saber.
Chegando ao destino, deu um pulo e foi colocar a carta no quarto do rei Sol e da rainha Lua. Eles ficaram muito admirados quando leram a carta mas aceitaram o pedido. A rã Mainu regressou a casa pelo mesmo processo. A noiva desceu à Terra deslizando por um fio especial tecido pela aranha que servia o rei.
O rapaz casou com a filha do rei Sol e da rainha Lua, foram felizes para sempre e tudo graças à inteligência viva da rã Mainu.
Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada,
Rãs, Príncipes e Feiticeiros, Ed. Caminho
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