domingo, 10 de maio de 2015

A SURPRESA



   - Levanta-te depressa, Nicolau. Tenho uma surpresa para ti.
   - É um carrinho? - perguntei eu. - Um vagão de mercadorias para o meu comboio? Uma caneta? Uma bola de râguebi?
   - Não - disse a mamã. - É um pulôver.
   E então eu fiquei dececionado, porque as coisas para vestir não são surpresas a sério.
   E então foi terrível! A mamã ficou bestialmente zangada, disse-me que eu era um ingrato, que tinha corrido as lojas todas e que não tinha sido fácil arranjar um pulôver assim tão bonito.
   - É um pulôver de bebé! - exclamei eu.
   - Queres um açoite? - perguntou-me a mamã.
   Portanto, como vi que não era altura para graças, vesti o meu pulôver, que era azul-claro, com três patos amarelos, cada um por cima do outro, e desatei a chorar.
   A caminho da escola, eu ia bastante aborrecido porque sabia que os meus amigos iam gozar comigo quando vissem os meus patos. Mesmo com o casaco bem abotoado até ao pescoço, via-se o pato de cima a rir-se.
   Os meus amigos estavam a jogar ao berlinde e o Alceste virou-se quando eu cheguei.
   - Jogas? - perguntou-me ele.
   - Não - respondi. - E, além disso, deixem-me em paz!
   - Ora essa, que é que tens? - perguntou-me o Eudes.
   - E se o meu pulôver não vos agrada, levam umas boas estaladas - disse eu.
   - Oh! - exclamou o Godofredo. - Um pato! O Nicolau tem um pato!
   E então o Godofredo pôs-se a correr, com as pernas afastadas, a abanar os braços, enquanto se virava para mim e gritava: "Quá-quá! Quá-quá!"


Gosciny e Sempé, O Balão do Menino Nicolau e Outras Histórias Inéditas,
Teorema (adaptado)

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