A SURPRESA
- Levanta-te depressa, Nicolau. Tenho uma surpresa para ti.
- É um carrinho? - perguntei eu. - Um vagão de mercadorias para o meu comboio? Uma caneta? Uma bola de râguebi?
- Não - disse a mamã. - É um pulôver.
E então eu fiquei dececionado, porque as coisas para vestir não são surpresas a sério.
E então foi terrível! A mamã ficou bestialmente zangada, disse-me que eu era um ingrato, que tinha corrido as lojas todas e que não tinha sido fácil arranjar um pulôver assim tão bonito.
- É um pulôver de bebé! - exclamei eu.
- Queres um açoite? - perguntou-me a mamã.
Portanto, como vi que não era altura para graças, vesti o meu pulôver, que era azul-claro, com três patos amarelos, cada um por cima do outro, e desatei a chorar.
A caminho da escola, eu ia bastante aborrecido porque sabia que os meus amigos iam gozar comigo quando vissem os meus patos. Mesmo com o casaco bem abotoado até ao pescoço, via-se o pato de cima a rir-se.
Os meus amigos estavam a jogar ao berlinde e o Alceste virou-se quando eu cheguei.
- Jogas? - perguntou-me ele.
- Não - respondi. - E, além disso, deixem-me em paz!
- Ora essa, que é que tens? - perguntou-me o Eudes.
- E se o meu pulôver não vos agrada, levam umas boas estaladas - disse eu.
- Oh! - exclamou o Godofredo. - Um pato! O Nicolau tem um pato!
E então o Godofredo pôs-se a correr, com as pernas afastadas, a abanar os braços, enquanto se virava para mim e gritava: "Quá-quá! Quá-quá!"
Gosciny e Sempé, O Balão do Menino Nicolau e Outras Histórias Inéditas,
Teorema (adaptado)
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