A SENHORA DA GRAÇA
Era uma vez um homem que era casado com uma mulher, muito amiga do vinho, a ponto de não deixar parar vinho na adega. Um dia o homem saiu para comprar uns bois, e recomendou à mulher que não fosse à adega beber o vinho. Apenas o homem virou costas, a mulher chamou logo uma comadre e foram ambas para a adega beber o melhor pipo de vinho que encontraram. O homem, quando voltou para casa e se achou sem o vinho, queria bater na mulher; mas ela disse-lhe que não lhe batesse, pois estava inocente, quem tinha bebido o vinho tinha sido a gata. Como o homem não quisesse acreditar, a mulher disse-lhe: "Pois olha, homem, havemos de ir à Senhora da Graça, e havemos de perguntar-lhe quem foi que bebeu o vinho, se fui eu ou a gata; se a Senhora disser que fui eu, hei de trazer-te às costas para casa, e se eu estiver inocente hás de tu trazer-me a mim."
Partiu o homem mais a mulher para a Senhora da Graça e, tendo chegado a um sítio onde havia um eco, a mulher disse ao homem: "Olha, escusamos de ir mais longe; Nossa Senhora também aqui nos ouve." O homem então gritou com toda a força: "Dizei-me, Senhora da Graça, quem bebeu o vinho, foi a mulher ou foi a gata?" E o eco respondeu: "A gata".
Três vezes o homem perguntou o mesmo, e três vezes o eco lhe respondeu: "a gata". O homem então, convencido que a mulher estava inocente, levou-a às costas para casa, e matou a gata para ela não lhe ir beber mais o vinho.
Adolfo Coelho, in Contos Tradicionais Portugueses,
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