terça-feira, 29 de dezembro de 2015

XXX

Encontraram-se dois traços
numa larga estrada de vento.
Amor súbito, beijos e abraços
- um lindo cruzamento.

Pergunta de uma menina à professora:
"Porque é que o chá da minha avó é chá
e o da Pérsia é ?"

José Carlos de Vasconcelos, De Águia a Zebra, Tudo é Poema,
Plátano Editora

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

PRESÉPIO

Nuzinho sobre as palhas,
nuzinho, em dezembro!

Que pintores tão cruéis,
Menino te pintaram!

O calor do seu corpo,
para que o quer tua Mãe?
Tão cruéis os pintores!
(Tão injustos contigo,
Senhora!)

Só a vaca e a mula
com seu bafo te aquecem...

- Quem as pôs na pintura?

Sebastião da Gama, Pelo Sonho É que Vamos



Para todos os leitores:

Feliz Natal!

domingo, 20 de dezembro de 2015

PRAIA

Na luz oscilam os múltiplos navios
Caminho ao longo dos oceanos frios

As ondas desenrolam os seus abraços
E brancas tombam de bruços

A praia é longa e lisa sob o vento
Saturada de espaços e maresia

E para trás de mim fica o murmúrio
Das ondas enroladas como búzios.

Sophia de Mello Breyner, No Tempo Dividido

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

CAPITÃO de VERA CRUZ

   A viagem de Vasco da Gama conseguira obter o êxito havia muito tempo sonhado: no ano de 1498, estava concluída a ligação marítima entre Lisboa e Calecute.
   Era, no entanto, estabelecer feitorias nos litorais da Índia para realizar o comércio da pimenta e outras ambicionadas especiarias do Oriente. Levantavam-se grandes dificuldades a esse projeto porque os príncipes da região não permitiam esse trato aos portugueses.
   O senhor D. Manuel tinha de impor a sua autoridade pela força.
   Foi para isso que, em março de 1500, se fez ao mar uma poderosa frota de treze navios, sob o comando de Pedro Álvares Cabral. Era um dos capitães Bartolomeu Dias. A seguir a Cabo Verde, a armada rumou para sudoeste e, no dia 22 de abril, tinha a terra à vista: era a terra firme a ocidente que D. João II assegurara pelo Tratado de Tordesilhas.  Coube a Nicolau Coelho e a Bartolomeu Dias, experimentados marinheiros, fazer os contactos iniciais com a gente boa daquela região a que Álvares Cabral deu o nome de Vera Cruz.

in Bartolomeu Dias, História Júnior,
 Edições Asa

Chegada de Vasco da Gama à Índia

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

ESTRANHA  VINGANÇA

   No dia 2 de maio, a frota de Cabral retornou a viagem para a Índia, enquanto um dos navios regressava a Lisboa com a notícia de Vera Cruz. Nas proximidades do cabo da Boa Esperança, rebentou uma tempestade com violência terrível. Era dia e as nuvens carregadas cobriam o céu de trevas, como se fosse noite escura. O vento de rajada acometia as velas furiosamente e as vagas do mar erguiam-se, temerosas, ameaçando engolir as embarcações na boca do abismo. Foram dias e noites de pavor! A tormenta dispersou a conserva * e o peso das velas molhadas dificultava as manobras à tripulação em desespero. Quatro navios viraram de quilha para o fundo do mar. Um deles era a caravela de Bartolomeu Dias, o bravo capitão que, pela primeira vez, ali tinha chegado, ao termo de África: por isso lhe chamavam o Capitão do Fim. Assim morreu o maior navegador que houve em Portugal. Até se podia pensar que o gigante Adamastor ** estava »a espera do herói para uma estranha vingança.

Bartolomeu Dias, História Júnior,
Edições Asa

* Navios em grupo.
** Figura mitológica (gigante assustador) usada por Camões para personificar o cabo das Tormentas, que mais tarde se chamou cabo da Boa Esperança.

Resultado de imagem para cabo da boa esperança

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

O PALHAÇO

I
O palhaço é rico ou pobre
É conforme, é conforme
As vestes com que se cobre
É bonito ou disforme.

II
Lá vêm os palhaços!
- Bravo!
Pezudos e engraçados!
- Viva!
Com narizes encarnados.
Lá vêm os palhaços!
- Bravo!
De calças aos quadrados!
- Viva!
E fundilhos remendados!

III
O palhaço ri ou chora
É conforme, é conforme.
Pagam-lhe o sorriso à hora.
Com o riso come e dorme!

IV
Quem se ri com os palhaços
Desconhece que hora a hora
Num palhaço que se ri
Há sempre um homem que chora.

José Carlos Ary dos Santos, Operários do Natal