segunda-feira, 9 de maio de 2016

UM NOVO INTERESSE

   Adquiri um novo interesse na escola. Nada tinha a ver com o estudo mas refletiu-se nele.
   Desde o começo das aulas eu havia reparado na Júlia. Não que ela fosse a menina mais bonita da aula. Olhando bem era até um bocadinho gorda para além da conta. Mas, quando sorria, a Júlia como que brilhava. O sorriso era grande, abria-se no rosto, tomava-o todo. Eu achava que nunca vira ninguém sorrir assim. Olhava a menina de longe, desejando aproximar-me, ser amigo dela, mas sem coragem. Um dia ela procurou-me para perguntar qualquer coisa. E sorriu só para mim. Desde então passei a desejar vê-la sorrir e a procurar agradar-lhe com palavras e pequenos presentes. Guardava para a Júlia a fruta mais bonita, uma flor, um desenho e até um lápis grande, diferente de todos os que a avó Lídia me dera. Achava sempre alguma coisa para perguntar à menina e tinha sempre uma resposta comprida para as perguntas dela. A Júlia aceitava os meus presentes e às vezes retribuía-os. Começava a pensar que tinha arranjado uma amiga. Não lhe falava de tudo, procurava mostrar-lhe o meu lado melhor. Não podia competir com os outros nos desportos. Então, para ser notado pela nova amiga, estudei mais, esmerei-me nos trabalhos de casa, li histórias para ter que lhe contar e mostrar.
   E certa vez alguém perguntou se éramos namorados. Tive um susto alegre e fiquei a interrogar-me. Namorados? Será que éramos? Teria eu encontrado uma namorada? Quem sabe se era verdade? Mas não me decidia a perguntar à Júlia. Talvez ela também não soubesse se éramos ou não namorados e talvez se zangasse comigo.
   Achei melhor guardar a dúvida em segredo.

 Ilsa Lima Monteiro, Abram a Porta ao Meu Pai,
Ed. Caminho

terça-feira, 3 de maio de 2016

PARÁFRASE

Este poema começa por te comparar
com as constelações,

e desenhos precisos,
e depois
um jogo de palavras indica

é uma ciência infeliz.
Em seguida, duas metáforas

e dos contrastes
petrarquistas que existem

no refúgio triste da imaginação.

A segunda estrofe sugere
que a diversidade de seres vivos

de Deus
e a tua, ao mesmo tempo
que toma um por um
os atributos
que participam da tua natureza

do teu silêncio.

Uma hipérbole, finalmente, 
diz que me fazes muita falta.

Pedro Mexia in 366 poemas que falam de amor,
Quetzal