sexta-feira, 3 de junho de 2016

 UMA PRINCESA ORIGINAL

   Era uma vez um rei que, como os reis de antigamente, tinha o hábito de escolher os noivos para as suas filhas.
   Assim, quando a princesa Preciosa fez treze anos, reuniu na sala do trono os pretendentes e anunciou:
   - Dou a mão da minha filha a quem mais depressa consiga encher este salão.
   - Eu encho-o rapidamente - disse o primeiro. - Despejo aqui todos os fardos de palha da cavalariça que pouco pesam e perto estão.
   - Pois eu faço o serviço mais depressa e melhor - disse o segundo. - Basta-me abrir as torneiras e, sem carregamentos, encho a sala de água.
   - Pois eu - disse o terceiro - encho-o já, sem precisar de ir buscar seja o que for.
   Então, para espanto dos presentes, pôs-se a acender as velas do candelabro, até a luz alcançar todos os recantos.
   Ficou o rei encantado com o jovem, chamando logo a princesa para lhe dar a sua mão.
   Porém, a princesa não estava interessada em dar a mão ou o pé a quem quer que fosse. Queria brincar, estudar, correr mundo.
   - Meu pai - replicou ela -, o senhor prometeu que daria a minha mão a quem ganhasse este concurso. Também quero experimentar.
   Nesse mesmo instante, pegou na guitarra. Num instante, a mais bela música encheu a sala, espalhou-se pelos corredores e até na rua as pessoas paravam para a ouvir tocar.
   Entretanto, o rei, embaraçado mas orgulhoso da filha que tinha, concordou:
   - Ganhaste!
   Imediatamente, a princesa concluiu:
    - Portanto, a mão é minha e só minha. Dou-a a quem me apetecer, no dia em que eu quiser.
    Finalmente, os velhos daquela corte ficaram a adivinhar:
   - Que mania da independência! Como serão as raparigas no século vinte?

Luísa Ducla Soares, Histórias Nunca Lidas