quarta-feira, 29 de abril de 2015

A PALAVRA CHORAR


   Esta história não aconteceu ainda, mas acontecerá certamente amanhã. Eis o que conta.
   Nesse dia, uma velha e boa professora levou os seus alunos, em fila de dois, a visitar o Museu do Tempo Que Passou, onde estão reunidas as coisas de antigamente que não servem já, como a coroa do rei, o vestido de cauda da rainha, o elétrico de Monza, etc..
   Numa pequena vitrina levemente empoeirada estava a palavra Chorar.
   Os pequenos alunos do Amanhã leram a etiqueta, mas não entenderam.
   - Senhora professora, o que é que isto quer dizer?
   - Trata-se de uma jóia antiga.
   - Terá pertencido aos Etruscos?
   A professora explicou que, noutros tempos, aquela fora uma palavra muito usada e que magoava. Mostrou um frasquinho onde estavam conservadas duas lágrimas; quem sabe se não as terá derramado um escravo surrado pelo patrão, ou talvez um menino sem casa.
   - Parece água - disse um dos alunos.
   - Mas escaldava e queimava - disse a professora.
   - Será que a ferviam, antes de utilizá-la?
   Os pequenos alunos não entendiam patavina e começavam já a aborrecer-se. Então, a boa professora acompanhou-os a outras secções do Museu, onde havia coisas mais simples para ver, como: a grade de uma prisão, um cão de guarde, o elétrico de Monza, etc, tudo coisas que já não existiam no país do Amanhã.


Gianni Rodari, Novas Histórias ao Telefone,
Ed. Teorema, 1988

Uma lágrima

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