domingo, 19 de julho de 2015

BABINE O PARVO

"Um parvo houve por bem
Ir correr a Rússia a fundo
Para ver se via o mundo
E dar nas vistas também."
Pelo caminho encontrou
Duas isbas isoladas
E nem vivalma lá dentro.
Foi ver à cave e que viu?
Uns diabos mafarricos
De bigodes eriçados,
Olhos grandes esbugalhados,
A cabeça muito em bico,
Dedos compridos em garra,
Ali a jogar às cartas,
A chocalharem os dados,
A contarem o dinheiro.
Diz-lhes o Parvo, lampeiro:
"Ora Deus seja convosco!
Convosco, gente de bem!"
Isto não lhes caiu bem
Aos diabos, não gostaram
E ao Parvo se agarraram.
Desataram a bater-lhe,
Por pouco que não o esganaram;
Ficou mais morto que vivo,
Só então eles o largaram. 

Então o Parvo lá voltou
Lavado em pranto pra casa,
E grandes gritos soltava.
Logo a mãe barafustou,
A mulher o insultou
E a irmã acrescentava:

- Que grande burro és, Babine,
És mesmo um parvo chapado!
Não lhes soubestes dizer
O que era mais indicado;
Devias ter dito assim:

"Oh! Deus Nosso Senhior,
Sê maldito, ó Inimigo!"
Logo os verias pelas costas,
Nada mais queriam contigo
E era para ti, grande parvo,
O dinheiro das apostas!

- Está entendido, mulheres!
Fica assente, mulher minha,
Lukéria, minha mãezinha,
E Tchernava, minha irmã...
Hoje fui parvo, pois fui;
Não o serei amanhã!

E o Parvo foi mais além
Foi correr a Rússia a fundo
Para ver se via o mundo
E dar nas vistas também.

Pelo caminho encontrou
Quatro irmãos que iam malhando
Na eira espigas de trigo.
Diz-lhes ele, a cada qual:
"Oh! Por Deus Nosso Senhor,
Sê maldito, ó Inimigo!"
Logo ali os quatro irmãos
A bater-lhe desataram.
Ficou mais morto que vivo,
Só então eles o largaram.

O Parvo lá voltou
Banhado em pranto pra casa
E grandes gritos soltava.
Logo a mãe barafustou
A mulher o insultou,
E a irmã acrescentava:

- Que grande burro és, Babine!
És mesmo um parvo chapado!
Não lhes soubeste dizer
O que era mais indicado;
Devias ter dito assim:
"Oxalá arrecadeis
tantos centos num só dia
Que nem a custo o leveis!"

- Está entendido, mulheres,
Fica assente, mulher minha,
Lukéria, minha mãezinha,
E Tchernava, minha irmã!
Hoje fui parvo, pois fui;
Não o serei amanhã!
E o Parvo foi mais além
Percorrer a Rússia a fundo
Para ver se via o mundo
E dar nas vistas também.

Leão Tolstoi, Babine, o Parvo

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