quinta-feira, 9 de julho de 2015

PIPISTRELO

Novidade sem tamanho,
verdadeira sensação,
atraía ao Zoológico
uma grande multidão.
Um bicho estranho chegara,
mastodonte,
dinossauro,
quem sabe, era um dragão!
O corpo de jacaré,
asas roxas de morcego,
crescendo a olhos vistos,
crescendo de fazer medo.
O tratador italiano,
de apelido Pomarola,
ao ver as asas abertas
do animal recém-chegado,
não pôde conter um grito:
"Oh, que belo pipistrelo!"
- pipistrelo quer dizer morcego
em sua língua materna.
Os que ouviram gostaram,
a história se espalhou
e para sempre ficou
Pipistrelo batizado.
Jornais e televisão tomaram conta do assunto,
espalharam aos quatro ventos,
fotografias, imagens
e notícias de alarmar:
acuado no seu canto, Pipistrelo não comia.
Não comia nem bebia.
De asas murchas e roxas,
ele também não dormia.
Vinte dias sem comer,
sem dormir e sem beber,
se assim continuasse, não tinha jeito,
ia morrer.
Todo o mundo se afligia:
"Ai, meu Deus! Quanta agonia!
Pipistrelo está morrendo
credo em cruz, ave-maria!
Não deixem ele morrer!"
Do Brasil inteiro vieram os que de bicho entendiam.
Observaram, estudaram, especularam, discutiram, analisaram.
Que fazer? Ninguém sabia.
Coça que coça a cabeça...
Até que por fim um deles, entendido em coração,
achou o nó da questão:
"Todo o mal de Pipistrelo é tristeza, é paixão."
A notícia se espalhou, rádio, jornal, televisão,
dos quatro cantos do mundo interessados no assunto
tocaram-se para o Brasil:
sábios de toda a Europa, gringos americanos e um chinês de Macau.

Zélia Gattai, Pipistrelo de Mil Cores




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