sexta-feira, 31 de julho de 2015

O COELHO BRANCO

   O coelho branco pôs os óculos. "Por onde deseja Vossa Majestade que eu comece?"
   "Começa pelo princípio", disse o Rei severamente, "e continua até ao fim; depois, para."
   São estes os versos que o Coelho Branco leu:

Parece que tu foste ter com ela
E que falaste com ele por fim
Ela disse que eu tinha uma alma bela
Mas que nadar, não era para mim.
Ele disse que eu estava para fora
E nós sabemos que disse a verdade.
Se ela teimar, que se vá embora
E que se deixe de tanta maldade.
Dei-lhe uma a ela, a ele dei duas,
Tu deste-me aquelas que a mim calharam
E voltaram todas pelas mesmas ruas
Ter às mesmas mãos que as cobiçaram.
Se ele ou eu fôssemos julgados
E condenados nalgum tribunal
Seríamos ambos logo libertados
Porque, de certeza, não agimos mal.
Eu tinha a ideia que tu tinhas sido
(Antes do ataque que ela sofreu)
O obstáculo que se tinha metido
De certa maneira entre ela e eu.
Não deixes saber que ela gostava
Muito mais delas que de todos nós.
Isso era um segredo que ela guardava
E nada faremos para lhe dar volta.
   "Esse é o testemunho mais importante que ouvimos até agora", disse o Rei, esfregando as mãos; "por isso, os jurados têm de ..."
Lewis Carroll, Alice no País das Maravilhas,
Ambar


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